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Um homem diferente

Eu deixei evidente na minha crítica que eu não gostei de “A Substância“. Gostei muito do conceito, da idéia, da metáfora… mas achei a execução pobre. Parte disso pode ser o fato que eu não gosto do gênero de terror/gore. Na ocasião em que assisti, eu até comentei que o filme poderia ser feito como um excelente drama e era uma pena que tinham escolhido gravá-lo como um terror.

O longa “Um homem diferente”, da A24, me surpreendeu ao pegar uma metáfora muito parecida e entregar uma comédia B. Uma comédia das boas, daquele tipo de comédia que era feita lá na década de 90: um filme alternativão, no qual até o visual dele é meio propositalmente simplório.

A representação de O Médico e o Monstro que este filme faz também é um pouco diferente (e um tanto mais inteligente). Ela é elaborada de tal forma que os papéis de médico e monstro começam a se misturar a ponto que o público não sabe qual é qual, a despeito das aparências físicas.

Character actor

Lá fora, existe o conceito de “character actor“. Não tem uma tradução boa, mas é uma definição daqueles atores que você sempre vê fazendo uns papéis meio bizarros, umas coisas meio diferentes, como se tudo o que eles querem é fazer algo que ninguém nunca tenha feito antes. Eu respeito demais esses atores. Principalmente se são atores que já ganharam uma notoriedade foda e podiam viver repetindo papéis meia-boca.

Tipo o Daniel Radcliffe. Ele é um péssimo ator, um dos piores que Hollywood poderia nos entregar. Mas hoje em dia ele é totalmente ciente que é um péssimo ator e, talvez justamente por isso, escolhe fazer as coisas mais bizarras e inusitadas que seu agente consegue encontrar.

Ou o eterno Frodo, Elijah Wood. Este, um excelente ator, que muito jovem estava com a vida de celebridade ganha ao interpretar o personagem principal da maior saga cinematográfica de todos os tempos.

Sebastian Stan abraçou essa idéia também: o ator vêm pegando uns projetos malucos, que o desafiam na profissão. Depois de encarnar um convincente Trump, desta vez ele opta por algo menos repulsivo: um cidadão com neurofibromatose, uma condição genética rara. Quando usando as próteses em sua cara, Stan abusa do gestual com o resto do seu corpo, como se quisesse compensar a ausência de emoções faciais. E faz isso, como sempre, muito bem. O ator Adam Pearson, que também está no filme, é uma conhecida vítima dessa doença.

A genialidade da história não fica só em não rebaixar a aparência física dos que são afligidos pela doença, mas também imaginar nas conseqüências psicológicas de uma transformação completa. Sim, parece muito com a proposta de “A Substância“, não precisava repetir isso. Mas o caminho que ele toma é mais um negócio “A Bela e a Fera“. Ou, mais precisamente: será que a Bela continuou amando a Fera depois que ele virou um príncipe?

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.