SALADA CAPRESE lasanha de sobremesa

Trilha Sonora para um Golpe de Estado

Os últimos anos foram praticamente uma era de ouro dos documentários. Veio muita coisa muito boa, que mudou completamente a forma como o mundo vê o gênero. Filmes como Honeyland, por exemplo, mais parecem um romance do que algo propriamente real – ou para usar uma palavra mais apropriada, “algo propriamente documental“.

O concorrente a Oscar Trilha Sonora para um Golpe de Estado ganha pelo estilo. A produção artística, a formatação de texto entre um bit e outro, a forma de contar a história é, efetivamente, extremamente bem feita.

É claro que a história, que conta um episódio de crise nas Nações Unidas por conta de revoluções descolonizadoras na África (em especial no Congo), é interessante e importante o suficiente para merecer uma dedicação cinematográfica.

A produção porém, barra em dois grandes problemas: O primeiro é o tempo de tela. Duas horas e meia para um documentário é coisa demais, principalmente considerando uma obra com uma produção tão caprichada e lotada como esta, onde a audiência é bombardeada com estímulos o tempo todo: textos, entrevistas, imagens e músicas são atirados na tela o tempo todo, às vezes simultaneamente.

O segundo problema é um pouco mais polêmico: o ponto de vista. Claro, ninguém vai ficar do lado da colonização africana, mas muitas vezes o filme acaba caindo numa disputa de “nós contra eles”, algo que eu julgo sempre danoso. Além, é claro, de menções honrosas e positivas a Fidel Castro, numa demonstração que o filme não julga todos os ditadores como malvados (pois devia).

No final, apesar de um grande fã da história africana (já escrevi este livro, inclusive), é triste admitir que este filme não me pegou. Faltou filtrar um pouco os estímulos enviados: tem coisa demais, o tempo todo demais, por tempo demais. No final, eu estava cansado, que é um sentimento que um documentário não tem permissão de causar.

A trilha sonora, porém, é realmente impecável.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.