SALADA CAPRESE frankly, my dear, I don't give a damn.

O Bom Professor

Eu não sou um grande amante do cinema francês. Na verdade eu sou quase o oposto: eu não gosto de cinema francês. É tudo meio grudento, arrastado; os personagens sempre parecem meio apáticos… eu não sei explicar.

Talvez seja conseqüência da imensa quantidade de filmes que a França produz. Com investimento e incentivos altos, tem sempre muita coisa saindo no mercado francês, incluindo muita coisa ruim. E olha que, apesar de altamente consumido pelos próprios franceses, muitos filmes quase não chegam aqui.

O Bom Professor chegou e é puro suco de cinema francês: os tons meio apáticos, o melodrama, o arrasto… Não sei explicar… o filme nem ruim é. É só francês, eu acho.

#MeNeither

Apesar disso há dois ou três personagens que valem a pena.

O nosso protagonista é fácil de empatizar. Ele realmente parece ser um bom professor, e em ambos os sentidos: tanto um bom lecionista quanto uma boa pessoa. Essa construção soa narcisista quando você descobre que o filme é inspirado em uma história real vivida pelo próprio roteirista/diretor Teddy Lussi-Modeste. Já tinha visto outros filmes roteirizados por ele, mas aparentemente ele queria uma obra para chamar de sua, redimir sua imagem docente e mostrar que ele é sim uma boa pessoa. Pouco modeste, Modeste.

O enredo acompanha um professor lidando com as acusações de assédio causadas por um mau-entendido em uma escola. Soa até um anti-MeToo, em alusão ao movimento hollywoodiano contra o assédio no meio cinematográfico. Imagino que as principais críticas em relação ao filme venham daí, o que é compreensível. Mas não foi esse o ponto que eu não gostei, uma vez que eu sou um grande entusiasta de acompanhar todos os lados de uma história, não importa qual história.

Na cartilha

O que parece é faltar coisa pros atores trabalhar. No fundo, tirando o professor, ninguém parece ter muita profundidade. A aluna, envolvida no mal-entendido e responsável também pela acusação, é também uma vítima, por outras circunstâncias. Ao invés de redimir a personagem pelo estrago que ela fez na vida de nosso herói, o filme ignora esse ponto de vista, não se importando com o seu arco.

Uma pena, uma vez que o filme começa com um roteiro promissor. Ele não perde tempo e a primeira cena é logo a do incidente incitante em sala, com diálogos bem escritos e uma sucessão narrativa bem desenhada. Não me surpreende, já que ela é a principal cena do filme. Ela estabelece o protagonista bem, e deixa claro que o incidente não passou de uma confusão interpretativa decorrente unicamente de quão bom professor o cara é. Claramente a equipe do filme trabalhou com um esmero muito maior nessa cena do que no resto do filme (até mesmo pela sua importância, tanto narrativa quanto para limpar definitivamente a imagem do roteirista, o senhor Modeste).

Uma pena que não trabalharam tão bem no resto do filme. Mas para cinema francês, tá bom.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.