SALADA CAPRESE garçom, este gazpacho me foi servido frio

Mickey 17

Uma das melhores histórias de ficção científica que eu li nos últimos anos foi “As primeiras quinze vidas de Henry August“, da escritora Claire North. O livro conta a história de uma pessoa que morre e volta com memórias da sua vida passada. O livro Mickey 7, de Edward Ashton tem um conceito incrivelmente parecido, mas dessa vez sem a pegada de viagem no tempo que a obra de Claire North proporciona. Então pode ser que exista uma inspiração, mas certamente não existe uma cópia.

A história de Mickey 17 também não soa imitação de nada que já tenha sido feito, apesar de constantemente te fazer lembrar de tanta coisa que parte da euforia de assistir o filme vai ser sair da sala de cinema discutindo referências.

…da direção

A começar pela direção de Bong Joon Ho, de quem já deveríamos dispensar introduções. O diretor sul-coreano revirou a academia de cinema de cabeça para baixo quando seu Magnum Opus Parasita ganhou o Oscar de melhor filme em 2020 (e ele levou o Oscar de melhor direção). A competência do cara já é indiscutível.

Dessa vez, Joon Ho se aventura em gêneros inusitados, como a ficção científica e a comédia. Com cenas muito bem construídas, onde o diretor te leva com a câmera por caminhos que você não esperava ir, o filme nunca soa cansativo e segue um pacing e uma dinâmica de cenas que entusiasma mesmo nos momentos mais relaxantes.

Não que tenha muitos momentos assim. A ação não é propriamente o forte de Mickey 17, mas isso é compensado pela comédia.

Sim, a comédia: o filme é engraçadíssimo. Não necessariamente um humor de piadas tontas que poderiam ser lidas em um roteiro, mas um humor visual, de construção de cenas e por escolher o que mostrar e o que esconder. E, por deus, pela atuação absolutamente brilhante de Robert Pattinson

…da atuação

Não tem jeito, o menino Pattinson é um baita ator. Já tendo completamente superado o trauma de um vampiro que brilha, a atuação cômica dele salta à tela. Seja com um humor físico, seja com uma expressão em um determinado momento que pode te levar às gargalhadas com um olhar.

Mais do que isso, Robert Pattinson não interpreta somente um protagonista, mas uns dezessete ou dezoito deles – e é possível identificar um do outro simplesmente por um olhar ou por sua postura.

Odiável Adorável Casal-Vilão

Acompanhando ele, Mark Ruffalo e Tony Collette claramente se divertiram demais interpretando o casal vilão da empreitada, certamente puxando uma outra referência política bem atual.

…da história

E tudo isso é interligado com uma história contada do jeito certo. Como a ficção científica que é, há muita coisa para apresentar para nos situar no mundo de Mickey 17, mas tudo é entregue de forma gradativa e bem natural.

O roteiro usa a história do próprio Mickey Barnes para ir jogando a ficção científica. Então todo o mundo que é apresentado parece fazer sentido de acordo com o fio de enredo que estamos acompanhando.

…do geral

Mickey 17 é o melhor filme do ano por enquanto. O que soa estranho, visto que a campanha de marketing do filme parece bem devagar dado o blockbuster que é entregue.

Certamente, muita gente vai “descobrir” o filme no cinema e vai sair das sessões maravilhada com a surpresa que lhe foi entregue. Com isso, Mickey 17 tem tudo para se tornar um fênomeno cult em alguns anos. Vale ver no cinema algo assim.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.