SALADA CAPRESE garçom, este gazpacho me foi servido frio

La Chimera

O brasileiro, esse cidadão tão acostumado com roubos, furtos, chacinas, latrocínios, golpes, dois caras numa moto, assassinatos, corrupção, mamata, urubu do zap, desvios, sonegação fiscal, formação de quadrilha, e lavagem de dinheiro, pode finalmente assistir um filme sobre um crime a qual nossa turminha aqui não está acostumada (a não ser, talvez, o Ronaldo Ésper): furtos de túmulos.

E a Itália, famosa por sua comida, seu povo meio folgado e suas relíquias subterrâneas, é uma das nações referência global no roubo amador de relíquias (o roubo profissional ainda é dominado por ingleses e franceses). Afinal, como dizem eles mesmos, Attenzione Pickpocket.

É natural que o filme La Chimera, que estréia em circuito nacional dia 25 de abril e que trata justamente de uma troupe de farroupilhos ladrões de túmulo, seja, portanto italiano. Mesmo que o ator principal seja inglês (Josh O’Connor, que fez uma das fases do príncipe Charles na série The Crown) e a atriz principal seja brasileira (Carol Duarte, que fez “A Força do Querer”, pra quem quer que seja noveleiro por aí), o filme é puro suco de italianices, com gente fumando, comendo, discutindo em voz alta, armando golpes, andando de trem, e roubando objetos valiosos que estavam enterrados; mas sempre bem vestidos. Por deus, até a personagem da Carol Duarte se chama “Itália”.

Essa regionalização do interior rural da Itália traz um clima bucólico demais para o filme, que até remete um pouco a uma boa produção da Globo Filmes. O romancezinho, como é de se esperar, vai e volta em seus altos e baixos. E nem é a parte mais interessante do filme: o arco do grupo saqueador de túmulos é o ponto alto do longa e o melhor filme sobre o tema desde Indiana Jones 5 ano passado. É, até que tem bastante filme sobre o assunto, agora que eu tô ponderando aqui.

Mas este é um filme despretensioso, com um elenco elegantemente feio e distraidamente competente.

Só não tem nenhuma quimera literal no filme, o que é uma pena, ia deixar o filme um pouco mais “Tomb Raider”. Não que isso seja bom, não era nem a proposta, mas eu queria ver a Lara Croft brigando com esses caras para ver quem ia ganhar.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.