SALADA CAPRESE as God is my witness, I will never be hungry again

A Contadora de Filmes

Para quem não é um maníaco por cinema, é difícil explicar a atração. Qual a diferença, afinal, de ver uma história contada em uma sala escura no alto de um shopping; ou no quarto, deitado na agradável cama de sempre?

Eu não sei explicar, só sei que sou um desses malucos atingidos pelo vício em cinema. Eu já fui pobre em algumas ocasiões da minha vida adulta (por duas vezes eu fali); e a coisa mágica de ver seu dinheiro se esvaindo a nada é aprender sobre si mesmo e ter o conhecimento das mordomias que você dispensa primeiro e quais mantém.

Cinema acaba sendo o penúltimo dos luxos que eu corto quando a pobreza chega. Cerveja que é o último (e só uma vez eu precisei cortar – cinema foram duas).

Por conta desse contexto pessoal de minha vida que foi até fácil simpatizar com a personagem principal de “A Contadora de Filmes”, drama chileno que tem o dedo do Walter Salles, perfeito pra você que saiu de Ainda estou aqui querendo ver mais alguma coisa que o cara tenha minimamente chegado perto.

O filme também traz de volta às suas origens latinas o ultra-poliglota Daniel Brühl, o Capitão Zemo da Marvel. Brühl, que eu conheci na película Adeus, Lenin, e sempre achava que era alemão, tem origens meio latinas: nasceu em Barcelona, filho de uma espanhola com um brasileiro. Se mudou para Alemanha jovem e fala alemão, espanhol, inglês, francês e português. Então ele não tem problema nenhum em gastar seu espanhol e seu charme no filme. Mesmo não passando de um personagem secundário.

Porque quem domina a película é a família de pobretões que, por conta de uma dessas reviravoltas traiçoeiras da vida, perde aquele dinheiro suado que gastavam para ir ao cinema todo domingo. É um casal com quatro filhos também, o ingresso tá uma fortuna, eu até entendo. Com a ausência de um Youtube e de um Stremio, a solução encontrada foi mandar María Margarita, a filha mais nova e desinibida, nas sessões para assistir aos filmes e voltar pra casa e contar como foi. Mas não do jeito que eu faço nas críticas aqui do site, misturando umas histórias pessoais que não tem nada a ver com nada: ela era uma storyteller nata.

Quer dizer. Acaba sendo conveniente para a protagonista que o filme seja ambientado no final da década de 60: ela só ia no cinema assistir filme bom. Recontar a história de “Se meu apartamento falasse”, do Billy Wilder é fácil. Queria ver María Margarita fazer um bom trabalho recontando qualquer filme dos Transformers.

Autor:
Barão do Principado de Sealand. Com uma inexplicável paixão por cinema, cervejas e queijos.