Não faz muito tempo que eu me tornei um grande fã do diretor David Leitch. Na verdade, foi só com “Trem Bala” que eu comecei a reparar no nome do rapaz por trás das câmeras, mesmo que eu seja um entusiasmado fã de Atomic Blonde e um admirador das cenas de ação de John Wick.
Mas acredito que foi só em Bullet Train mesmo que Leitch abraçou um dos gêneros que eu mais gosto a ação de comédia. Ao contrário da comédia de ação, onde as piadas são o foco e cenas de ação acontecem entre uma gag e outra, a ação de comédia é 100% focada na ação, e a forma como ela se desenrola que é a piada. Não é uma porradaria interrompida por piadocas marotas, como os filmes recentes do Homem Aranha fazem de forma brilhante; mas sim é uma porradaria cômica.
A forma como Trem Bala me pegou de calças curtas é culpa de uma certa ignorância sobre a carreira passada dele. Eu poderia ter juntado 1+1 e concluído que alguém que dirigiu “Fast and Furious: Hobbs & Shaw” e Deadpool com igual competência iria querer eventualmente juntar os dois gêneros no mesmo filme. E o diretor segue fazendo isso magistralmente, agora com “O Dublê”.
E dessa vez, ele tem lugar de fala: o diretor já trabalhou como dublê e como stunt coordinator, uma espécie de coreógrafo de explosões. Então ele sabe o que tá fazendo: a ação é realmente extremamente bem feita e, mesmo nas seqüências mais malucas, nunca fica complicado entender o que está acontecendo na tela.
Dada a temática do filme (uma história de amor boboquinha entre um dublê e uma diretora), ele também aproveita para entregar mais um mimo aos amantes do cinema que é aquele filme que se passa nos bastidores de um filme. É uma delícia ver a relação do dublê com atores, diretores, coordenadores de ação, produtores — e, é claro, faz o telespectador pensar se as relações tempestuosas não são uma coisa meio auto-biográfica, já que o diretor consta nos créditos de 82 filmes trabalhando como dublê.
Se o trabalho do diretor não é o suficiente para animar qualquer fã de cinema, o casal principal chega mandando bem demais: Emily Blunt é tão foda e linda que eu nem sei se o John Krazinski merece ela (e tem pouca coisa que o John Krazinski não merece). Ryan Gosling volta a mostrar que tem um timing cômico excepcional. Ele entrega ação com a mesma energia que solta piadas (sejam elas visuais ou proferidas) e faz até o draminha tonto do personagem parecer verossímil. Além disso, Gosling, como já ficou previamente estabelecido, é gostoso pra caralho, a ponto de me fazer contestar e amaldiçoar minha própria heterossexualidade.
Os atores secundários que orbitam ao redor do casal principal (quase obscurecidos pelo brilho de Blunt e Gosling) também têm seus momentos de destaque: Hannah Waddingham faz um sorriso falso lindíssimo e entrega seus bits cômicos com um timing perfeito. E eu sou fã do Aaron Taylor-Johnson desde Kick-Ass e sigo ansioso pra vê-lo nas telas como James Bond.
E, além de tudo, continua sendo delicioso ver um filme original, sem precisar assistir oito outros longas e nem comparar com outro filme com a mesma história que teria sido feito na década de 90. É entrar no cinema, ficar duas horinhas, encher o cu de pipoca e dar o fora. Delicinha.